O Realismo Científico na Química e a Intuição Química do Espaço: considerações filosóficas e aplicações no ensino

Autores

  • Artur Aldi Universidade de São Paulo
  • Carmen Fernandez Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.56117/resbenq.2024.v5.e052420

Palavras-chave:

Realismo, Espaço, Pilha de Daniell

Resumo

O realismo é um conceito que vem sido debatido há décadas nos campos da filosofia e da filosofia das ciências, ao longo das quais tem sido abordado, defendido e criticado de diversas maneiras e perspectivas. Apresentando um caráter polêmico, o debate do realismo também possui grandes implicações sobre a natureza do conhecimento científico e a ontologia da ciência, pois toca a questão sobre a relação entre ciência e realidade. Neste artigo buscaremos apresentar o debate acerca do realismo, mostrando a disputa a respeito do significado de tal conceito, bem como de seu valor epistemológico quando tomado como doutrina da filosofia da ciência ou como aspecto do conhecimento científico. Em especial, mostraremos como o realismo tem sido abordado na literatura de filosofia da química, segundo a qual o realismo consiste em uma importante e indissociável faceta da epistemologia química como a conhecemos. Contribuindo com essa perspectiva sobre o tema, buscaremos demonstrar, através de subsídios da filosofia de Gaston Bachelard, que o realismo químico está diretamente relacionado com a maneira como os químicos intuem o espaço dos átomos, moléculas e dos processos químicos como um todo. A dimensão espacial do realismo, uma vez compreendida, permite trazer novas análises sobre o caráter realista dos conceitos e modelos químicos. Por fim, mostraremos como as considerações filosóficas feitas aqui podem ser aplicadas no ensino, tomando como exemplo o modelo didático da pilha de Daniell, e ressaltaremos a importância de promover um ensino de conceitos que esteja em concordância com a filosofia do campo que o originou.

Biografia do Autor

Artur Aldi, Universidade de São Paulo

Possui bacharelado e licenciatura em Química pela Universidade de São Paulo. Atualmente é mestrando no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências da Universidade de São Paulo (PIEC-USP) na área de Ensino de Química. Atua como professor de Química na rede básica de ensino.

Carmen Fernandez, Universidade de São Paulo

Possui bacharelado e licenciatura em Química, mestrado e doutorado em Ciências. Tem livre-docência em Ensino de Química, todos pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é professora associada do Departamento de Química Fundamental do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, SP.

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Publicado

2024-12-30

Edição

Seção

Dossiê