Indo além da Natureza da Ciência: a síntese química para promover a Filosofia da Química

Autores/as

  • Evandro Fortes Rozentalski Universidade Federal de Itajubá
  • Paulo Alves Porto Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.56117/resbenq.2024.v5.e052418

Palabras clave:

Naturaleza de la ciencia., Filosofía de la química., Síntesis química.

Resumen

Desde a segunda metade do século XX, educadores, filósofos, historiadores e sociólogos da ciência argumentam pelo ensino da Natureza da Ciência na formação de cientistas, estudantes e professores de ciências. Isso foi motivado pela constatação de compreensões pouco elaboradas ou mesmo inadequadas sobre a Ciência, o trabalho do cientista e suas relações com a sociedade por parte daqueles sujeitos. Dentre as propostas, destaca-se a abordagem consensual da Natureza da Ciência, que consiste na seleção de aspectos consensuais ou pouco controversos discutidos no âmbito da Filosofia da Ciência que seriam adequados para a promoção de melhores compreensões sobre a Ciência. Ao longo das últimas décadas, essa abordagem adquiriu notoriedade e influenciou inúmeras pesquisas teóricas e empíricas relacionadas ao ensino da Natureza da Ciência. Apesar de suas contribuições, a abordagem consensual tem sido criticada por minimizar ou omitir as especificidades das diferentes disciplinas científicas. Sua adoção no âmbito da Educação Química não favoreceu a discussão e reflexão sobre problemas ontológicos, epistemológicos e éticos específicos da disciplina na formação de químicos e professores de Química. Assim, o objetivo deste artigo é delinear as contribuições da Filosofia da Química para problematizar, ampliar e ressignificar o seguinte aspecto comunicado pela abordagem consensual: cientistas realizam suas observações e explicações sem que isso implique na mudança do mundo natural. A síntese química é tomada como referência para discutir as limitações dessa compreensão. A produção de novas substâncias é reconhecida pela Filosofia da Química como uma das principais atividades dos químicos. Nessa atividade, os químicos criam artificialmente seus objetos de estudos, que não são dados a priori pela Natureza, e isso tem implicações de natureza ontológica, epistemológica e ética peculiares à Química. Com o exemplo da síntese química, busca-se fomentar novas pesquisas a respeito de outros temas, questões, ideias e contextos oriundos da Filosofia da Química para ir além da abordagem consensual da Natureza da Ciência na Educação Química.

Biografía del autor/a

Evandro Fortes Rozentalski, Universidade Federal de Itajubá

Bacharel e Licenciado em Química pela Universidade Federal do Paraná. Mestre e Doutor em Ensino de Ciências pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências da Universidade de São Paulo. Atualmente é professor na Universidade Federal de Itajubá, campus Itajubá. Atua principalmente em História e Filosofia da Ciência, especialmente suas implicações e contribuições para a área de Ensino de Ciências, sendo coordenador do Grupo de Estudos em História, Filosofia e Ensino de Ciências (GEHFEC).

Paulo Alves Porto, Universidade de São Paulo

Bacharel e licenciado em Química pela Universidade de São Paulo (USP), possui mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), na área de história da ciência. Realizou estágios de pós-doutoramento na Johns Hopkins University (EUA) e na PUC-SP. É livre docente na área de ensino de química pelo Instituto de Química da USP. Atualmente é professor no Instituto de Química da USP. É um dos editores do periódico Química Nova na Escola. Tem experiência na área de história da ciência, com ênfase em história da química, dedicando-se a estudos que visam a aproximar a história da ciência ao ensino de química nos níveis médio e superior.

Citas

Bachelard, G. (2009). O pluralismo coerente da química moderna. Rio de Janeiro: Contraponto.

Chamizo, J. A. (2013). Technochemistry : One of the chemists’ ways of knowing. Foundations of Chemistry, 15(2), 157-170.

Contakes, S. M., & Jashinsky, T. (2016). Ethical responsibilities in military-related work: the case of napalm. HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 22(1), 31–53.

Dagher, Z. R., & Erduran, S. (2016). Reconceptualizing the Nature of Science for Science Education - Why Does It Matter? Science & Education 25(1-2), 147-64.

Davis, M. (2002). Do the professional ethics of chemists and engineers differ? HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 8(1), 21-34.

Earley, J. E. (2004). Would introductory chemistry courses work better with a new philosophical basis. Foundations of Chemistry, 6(2), 137-160.

Erduran, S. (2005). Applying the philosophical concept of reduction to the chemistry of water: Implications for Chemical Education. Science & Education, 14(2), 161-171.

Firestone, J. B., Wong, S. S., Luft, J. A., & Fay, D. (2012). The Nature of Science or the Nature of Teachers: Beginning Science Teacher’s Understanding of NOS. In M. S. Khine (Ed.), Advances in Nature of Science Research: Concepts and Methodologies (pp. 189–206). Springer.

Gil-Pérez, D., Montoro, I. F., Alís, J. C., Cachapuz, A., & Praia, J. (2001). Para uma imagem não-deformada do trabalho científico. Ciência & Educação, 7(2), 125-153.

Hodson, D. (2014). Nature of Science in the Science Curriculum: origin, development, implications and shifting emphases. In M. R. Matthews (Ed.), International Handbook of Research in History , Philosophy and Science Teaching (pp. 911-970). Springer.

Irzik, G., & Nola, R. (2011). A Family Resemblance Approach to the Nature of Science for Science Education. Science & Education 20 (7-8), 591-607.

Jacob, C., & Walters, A. (2005). Risk and responsibility in chemical research: the case of agent orange. HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 11(2), 147-166.

Justi, R. S., & Gilbert, J. K. (2002). Philosophy of Chemistry in university Chemical Education: the case of models and modelling. Foundations of Chemistry, 4(3), 213–240.

Kovac, J. (2001). Gifts and commodities in Chemistry. HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 7(2), 141-153.

Kovac, J. (2004). The ethical chemist: professionalism and ethics in science. Prentice Hall.

Kovac, J. (2015). Ethics in science: the unique consequences of Chemistry. Accountability in Research, 22(6), 312-29.

Lederman, N. G., Abd-El-Khalick, F., Bell, R. L., & Schwartz, R. S. (2002). Views of Nature of Science Questionnaire: Toward Valid and Meaningful Assessment of Learners’ Conceptions of Nature of Science. Journal of Research in Science Teaching 39(6), 497-521.

Lederman, N. G. (2007). Nature of Science: Past, Present, and Future. In S. Abel & N. G. Lederman (Eds.), Handbook of Research on Science Education (pp. 831-880). Lawrence Erlbaum Associates.

Lemes, A. F. G., & Porto, P. A. (2013). Introdução à filosofia da química: uma revisão bibliográfica das questões mais discutidas na área e sua importância para o ensino de química. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 13(3), 121-147.

Martin, A., Iles, A., & Rosen, C. (2016). Applying utilitarianism and deontology in managing bisphenol-A risks in the United States. HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 22(2016), 79–103.

Martorano, S. A. A., & Marcondes, M. E. R. (2009). As concepções de ciência dos livros didáticos de Química, dirigidos ao Ensino Médio, no tratamento da Cinética Química no período de 1929 a 2004. Investigações em Ensino de Ciências, 14(3), 341-355.

Matthews, M. R. (1995). História, Filosofia e Ensino de Ciências: A tendência atual de reaproximação. Caderno Catarinense de Ensino de Física 12(3), 164-214.

Newman, M. (2013). Emergence, supervenience, and introductory Chemical Education. Science & Education, 22(7), 1655-1667.

Niaz, M., & Maza, A. (2011). Nature of Science in General Chemistry Textbooks. Springer.

Pietrocola, M., & Souza, C. R. (2019). A sociedade de risco e a noção de cidadania: desafios para a educação científica e tecnológica. Linhas Críticas, 25, e19844, 56-73.

Porto, P. A. (2019). História e Filosofia da Ciência no Ensino de Química: em busca dos objetivos educacionais da atualidade. In O. A. Maldaner, W. L. P. Santos, & P. F. L. Machado, Ensino de Química em Foco (pp. 141-156). Editora Unijuí.

Rozentalski, E. F. (2018). Indo além da Natureza da Ciência: o filosofar sobre a química por meio da ética química [Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo].

Rozentalski, E. F., & Porto, P. A. (2021). A ética química e seu ensino a estudantes de química. Química Nova, 44(09), 1210-1218.

Ruthenberg, K. (2016). About the futile dream of an entirely riskless and fully effective remedy: thalidomide. HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 22(1), 55–77.

Scerri, E. (2000a). Have Orbitals Really Been Observed? Journal of Chemical Education, 77(11), 1492–1494.

Scerri, E. (2000b). Philosophy of Chemistry: A New Interdisciplinary Field? Journal of Chemical Education, 77(20), 1-4.

Scerri, E., & McIntyre, L. (1997). The case for the Philosophy of Chemistry. Synthese, 111(3), 213–232.

Schummer, J. (1997a). Scientometric studies on chemistry I: the exponential growth of chemical substances, 1800-1995. Scientometrics, 39(1), 107-123.

Schummer, J. (1997b). Scientometric studies on chemistry II: aims and methods of producing new chemical substances. Scientometrics, 39(1), 125-140.

Schummer, J. (1999). Coping with the growth of chemical knowledge: challenges for chemistry documentation, education, and working chemists. Educación Quimica, 10(2), 92-101.

Schummer, J. (2001). Ethics of chemical synthesis. HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 7(2), 103-124.

Schummer, J. (2006). The philosophy of chemistry: from infancy toward maturity. In D. Baird, E. Scerri, & L. McIntyre (Eds.), Philosophy of Chemistry: Synthesis of a New Discipline (pp. 19–39). Dordrecht: Springer.

Sjöström, J. (2013). Towards Bildung-Oriented Chemistry Education. Science & Education, 22(7), 1873-1890.

Tobin, E. (2013). Chemical Laws, Idealization and Approximation. Science & Education, 22(7), 1581-1592.

Tolvanen, S., Jansson, J., Vesterinen, V., & Aksela, M. (2014). How to Use Historical Approach to Teach Nature of Science in Chemistry Education? Science & Education, 23(8), 1605-1636.

Vhurumuku, E. (2011). High School Chemistry students’ scientific epistemologies and perceptions of the nature of laboratory inquiry. Chemistry Education Research and Practice, 12(1), 47-56.

Viana, H. E. B., & Porto, P. A. (2012). O desenvolvimento de novas substâncias na primeira metade do século XX: o caso de Thomas Midgley, Jr. Circumscribere, 12, 16-30.

Viana, H. E. B., & Porto, P. A. (2013) Thomas Midgley, Jr., and the Development of New Substances: A Case Study for Chemical Educators. Journal of Chemical Education, 90(12), 1632-1638.

Publicado

2024-12-30