O Juízo Estético na Química: contribuições da Filosofia e da Educação Química
DOI:
https://doi.org/10.56117/resbenq.2024.v5.e052415Abstract
É consenso que falta diálogo entre a filosofia e a química, o que tem impactado o ensino dessa ciência. Esse descompasso representa uma lacuna em termos pedagógicos, visto que a filosofia da química é um importante fundamento para guiar e subsidiar práticas educacionais. Como forma de entrelaçar química e filosofia, destacamos a abordagem da estética no ensino, fortemente marcada por elementos visuais e linguísticos. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo compreender como o juízo estético tem sido abordado na química. Para isso, conduzimos um levantamento bibliográfico, de caráter exploratório, cujo corpus é constituído por revistas especializadas em filosofia da química e em periódicos centrados na educação química, a fim de articular ambas as áreas. Para a análise, seguimos princípios da Análise de Conteúdo de Bardin e adotamos as visões de estética discutidas por Immanuel Kant e Alfred North Whitehead. Como categorias, temos: 1) A importância do juízo estético na química; 2) A experiência estética na comunicação e na linguagem química; 3) Juízo estético nas representações químicas; 4) Química e arte: uma via para a estética no ensino de química; 5) A percepção da beleza em propostas e práticas de ensino. Embora a estética venha ganhando força no âmbito educacional, as contribuições no campo da filosofia da química têm sido mais significativas, necessitando articulação com ensino. Diversos aspectos e conhecimentos são apontados como promissores para abordar a interseção química-estética, como simetria, representações moleculares, mudanças de coloração, metáforas e analogias. Assim, o apelo estético na química tem se manifestado mais em seus objetos e símbolos do que na experiência que podem causar no indivíduo. No mais, a química encontra-se diretamente atrelada à arte nos trabalhos analisados, algo que deve ser ainda mais explorado em práticas educacionais, principalmente no nível básico. Esperamos que as reflexões aqui apresentadas contribuam tanto para práticas que considerem o aspecto estético da química com intencionalidade pedagógica e epistemológica quanto para o fortalecimento da química enquanto ciência, uma vez que o juízo estético também influencia na produção de seu conhecimento.
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