O Juízo Estético na Química: contribuições da Filosofia e da Educação Química

Autores

  • Raquel Elisama Brito Alcântara Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
  • Carolina Santos Bonfim Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.56117/resbenq.2024.v5.e052415

Resumo

É consenso que falta diálogo entre a filosofia e a química, o que tem impactado o ensino dessa ciência. Esse descompasso representa uma lacuna em termos pedagógicos, visto que a filosofia da química é um importante fundamento para guiar e subsidiar práticas educacionais. Como forma de entrelaçar química e filosofia, destacamos a abordagem da estética no ensino, fortemente marcada por elementos visuais e linguísticos. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo compreender como o juízo estético tem sido abordado na química. Para isso, conduzimos um levantamento bibliográfico, de caráter exploratório, cujo corpus é constituído por revistas especializadas em filosofia da química e em periódicos centrados na educação química, a fim de articular ambas as áreas. Para a análise, seguimos princípios da Análise de Conteúdo de Bardin e adotamos as visões de estética discutidas por Immanuel Kant e Alfred North Whitehead. Como categorias, temos: 1) A importância do juízo estético na química; 2) A experiência estética na comunicação e na linguagem química; 3) Juízo estético nas representações químicas; 4) Química e arte: uma via para a estética no ensino de química; 5) A percepção da beleza em propostas e práticas de ensino. Embora a estética venha ganhando força no âmbito educacional, as contribuições no campo da filosofia da química têm sido mais significativas, necessitando articulação com ensino. Diversos aspectos e conhecimentos são apontados como promissores para abordar a interseção química-estética, como simetria, representações moleculares, mudanças de coloração, metáforas e analogias.  Assim, o apelo estético na química tem se manifestado mais em seus objetos e símbolos do que na experiência que podem causar no indivíduo. No mais, a química encontra-se diretamente atrelada à arte nos trabalhos analisados, algo que deve ser ainda mais explorado em práticas educacionais, principalmente no nível básico. Esperamos que as reflexões aqui apresentadas contribuam tanto para práticas que considerem o aspecto estético da química com intencionalidade pedagógica e epistemológica quanto para o fortalecimento da química enquanto ciência, uma vez que o juízo estético também influencia na produção de seu conhecimento.

Biografia do Autor

Raquel Elisama Brito Alcântara, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

Graduada em Licenciatura em Química pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB - Câmpus de Jequié. Possui especialização em Ensino de Ciências Naturais e Matemática pelo Instituto Federal Goiano. Membra do grupo de pesquisa Investigações em Filosofia, Química e Currículo.

Carolina Santos Bonfim, Universidade de Brasília

Bacharela e licenciada em Química pela Universidade Federal da Bahia e mestra em Ensino, Filosofia e História das Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências (PPGEFHC-UFBA/UEFES). Membra dos grupos de pesquisa CiTeCo - Ciência & Tecnologia em Contexto (UnB) e Investigações em Filosofia, Química e Currículo (UESB). Atualmente, é doutoranda em Educação em Ciências do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências da Universidade de Brasília (UnB), com estágio sanduíche na Universidade de Lisboa. Tem interesse principalmente por temas relacionados a História, Filosofia e Sociologia das Ciências, Educação CTS e Educação Especial no Contexto Inclusivo.

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Publicado

2024-12-30

Edição

Seção

Dossiê