Indo além da Natureza da Ciência: a síntese química para promover a Filosofia da Química
DOI:
https://doi.org/10.56117/resbenq.2024.v5.e052418Palavras-chave:
Natureza da Ciência., Filosofia da Química., Síntese Química.Resumo
Desde a segunda metade do século XX, educadores, filósofos, historiadores e sociólogos da ciência argumentam pelo ensino da Natureza da Ciência na formação de cientistas, estudantes e professores de ciências. Isso foi motivado pela constatação de compreensões pouco elaboradas ou mesmo inadequadas sobre a Ciência, o trabalho do cientista e suas relações com a sociedade por parte daqueles sujeitos. Dentre as propostas, destaca-se a abordagem consensual da Natureza da Ciência, que consiste na seleção de aspectos consensuais ou pouco controversos discutidos no âmbito da Filosofia da Ciência que seriam adequados para a promoção de melhores compreensões sobre a Ciência. Ao longo das últimas décadas, essa abordagem adquiriu notoriedade e influenciou inúmeras pesquisas teóricas e empíricas relacionadas ao ensino da Natureza da Ciência. Apesar de suas contribuições, a abordagem consensual tem sido criticada por minimizar ou omitir as especificidades das diferentes disciplinas científicas. Sua adoção no âmbito da Educação Química não favoreceu a discussão e reflexão sobre problemas ontológicos, epistemológicos e éticos específicos da disciplina na formação de químicos e professores de Química. Assim, o objetivo deste artigo é delinear as contribuições da Filosofia da Química para problematizar, ampliar e ressignificar o seguinte aspecto comunicado pela abordagem consensual: cientistas realizam suas observações e explicações sem que isso implique na mudança do mundo natural. A síntese química é tomada como referência para discutir as limitações dessa compreensão. A produção de novas substâncias é reconhecida pela Filosofia da Química como uma das principais atividades dos químicos. Nessa atividade, os químicos criam artificialmente seus objetos de estudos, que não são dados a priori pela Natureza, e isso tem implicações de natureza ontológica, epistemológica e ética peculiares à Química. Com o exemplo da síntese química, busca-se fomentar novas pesquisas a respeito de outros temas, questões, ideias e contextos oriundos da Filosofia da Química para ir além da abordagem consensual da Natureza da Ciência na Educação Química.
Referências
Bachelard, G. (2009). O pluralismo coerente da química moderna. Rio de Janeiro: Contraponto.
Chamizo, J. A. (2013). Technochemistry : One of the chemists’ ways of knowing. Foundations of Chemistry, 15(2), 157-170.
Contakes, S. M., & Jashinsky, T. (2016). Ethical responsibilities in military-related work: the case of napalm. HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 22(1), 31–53.
Dagher, Z. R., & Erduran, S. (2016). Reconceptualizing the Nature of Science for Science Education - Why Does It Matter? Science & Education 25(1-2), 147-64.
Davis, M. (2002). Do the professional ethics of chemists and engineers differ? HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 8(1), 21-34.
Earley, J. E. (2004). Would introductory chemistry courses work better with a new philosophical basis. Foundations of Chemistry, 6(2), 137-160.
Erduran, S. (2005). Applying the philosophical concept of reduction to the chemistry of water: Implications for Chemical Education. Science & Education, 14(2), 161-171.
Firestone, J. B., Wong, S. S., Luft, J. A., & Fay, D. (2012). The Nature of Science or the Nature of Teachers: Beginning Science Teacher’s Understanding of NOS. In M. S. Khine (Ed.), Advances in Nature of Science Research: Concepts and Methodologies (pp. 189–206). Springer.
Gil-Pérez, D., Montoro, I. F., Alís, J. C., Cachapuz, A., & Praia, J. (2001). Para uma imagem não-deformada do trabalho científico. Ciência & Educação, 7(2), 125-153.
Hodson, D. (2014). Nature of Science in the Science Curriculum: origin, development, implications and shifting emphases. In M. R. Matthews (Ed.), International Handbook of Research in History , Philosophy and Science Teaching (pp. 911-970). Springer.
Irzik, G., & Nola, R. (2011). A Family Resemblance Approach to the Nature of Science for Science Education. Science & Education 20 (7-8), 591-607.
Jacob, C., & Walters, A. (2005). Risk and responsibility in chemical research: the case of agent orange. HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 11(2), 147-166.
Justi, R. S., & Gilbert, J. K. (2002). Philosophy of Chemistry in university Chemical Education: the case of models and modelling. Foundations of Chemistry, 4(3), 213–240.
Kovac, J. (2001). Gifts and commodities in Chemistry. HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 7(2), 141-153.
Kovac, J. (2004). The ethical chemist: professionalism and ethics in science. Prentice Hall.
Kovac, J. (2015). Ethics in science: the unique consequences of Chemistry. Accountability in Research, 22(6), 312-29.
Lederman, N. G., Abd-El-Khalick, F., Bell, R. L., & Schwartz, R. S. (2002). Views of Nature of Science Questionnaire: Toward Valid and Meaningful Assessment of Learners’ Conceptions of Nature of Science. Journal of Research in Science Teaching 39(6), 497-521.
Lederman, N. G. (2007). Nature of Science: Past, Present, and Future. In S. Abel & N. G. Lederman (Eds.), Handbook of Research on Science Education (pp. 831-880). Lawrence Erlbaum Associates.
Lemes, A. F. G., & Porto, P. A. (2013). Introdução à filosofia da química: uma revisão bibliográfica das questões mais discutidas na área e sua importância para o ensino de química. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 13(3), 121-147.
Martin, A., Iles, A., & Rosen, C. (2016). Applying utilitarianism and deontology in managing bisphenol-A risks in the United States. HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 22(2016), 79–103.
Martorano, S. A. A., & Marcondes, M. E. R. (2009). As concepções de ciência dos livros didáticos de Química, dirigidos ao Ensino Médio, no tratamento da Cinética Química no período de 1929 a 2004. Investigações em Ensino de Ciências, 14(3), 341-355.
Matthews, M. R. (1995). História, Filosofia e Ensino de Ciências: A tendência atual de reaproximação. Caderno Catarinense de Ensino de Física 12(3), 164-214.
Newman, M. (2013). Emergence, supervenience, and introductory Chemical Education. Science & Education, 22(7), 1655-1667.
Niaz, M., & Maza, A. (2011). Nature of Science in General Chemistry Textbooks. Springer.
Pietrocola, M., & Souza, C. R. (2019). A sociedade de risco e a noção de cidadania: desafios para a educação científica e tecnológica. Linhas Críticas, 25, e19844, 56-73.
Porto, P. A. (2019). História e Filosofia da Ciência no Ensino de Química: em busca dos objetivos educacionais da atualidade. In O. A. Maldaner, W. L. P. Santos, & P. F. L. Machado, Ensino de Química em Foco (pp. 141-156). Editora Unijuí.
Rozentalski, E. F. (2018). Indo além da Natureza da Ciência: o filosofar sobre a química por meio da ética química [Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo].
Rozentalski, E. F., & Porto, P. A. (2021). A ética química e seu ensino a estudantes de química. Química Nova, 44(09), 1210-1218.
Ruthenberg, K. (2016). About the futile dream of an entirely riskless and fully effective remedy: thalidomide. HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 22(1), 55–77.
Scerri, E. (2000a). Have Orbitals Really Been Observed? Journal of Chemical Education, 77(11), 1492–1494.
Scerri, E. (2000b). Philosophy of Chemistry: A New Interdisciplinary Field? Journal of Chemical Education, 77(20), 1-4.
Scerri, E., & McIntyre, L. (1997). The case for the Philosophy of Chemistry. Synthese, 111(3), 213–232.
Schummer, J. (1997a). Scientometric studies on chemistry I: the exponential growth of chemical substances, 1800-1995. Scientometrics, 39(1), 107-123.
Schummer, J. (1997b). Scientometric studies on chemistry II: aims and methods of producing new chemical substances. Scientometrics, 39(1), 125-140.
Schummer, J. (1999). Coping with the growth of chemical knowledge: challenges for chemistry documentation, education, and working chemists. Educación Quimica, 10(2), 92-101.
Schummer, J. (2001). Ethics of chemical synthesis. HYLE - International Journal for Philosophy of Chemistry, 7(2), 103-124.
Schummer, J. (2006). The philosophy of chemistry: from infancy toward maturity. In D. Baird, E. Scerri, & L. McIntyre (Eds.), Philosophy of Chemistry: Synthesis of a New Discipline (pp. 19–39). Dordrecht: Springer.
Sjöström, J. (2013). Towards Bildung-Oriented Chemistry Education. Science & Education, 22(7), 1873-1890.
Tobin, E. (2013). Chemical Laws, Idealization and Approximation. Science & Education, 22(7), 1581-1592.
Tolvanen, S., Jansson, J., Vesterinen, V., & Aksela, M. (2014). How to Use Historical Approach to Teach Nature of Science in Chemistry Education? Science & Education, 23(8), 1605-1636.
Vhurumuku, E. (2011). High School Chemistry students’ scientific epistemologies and perceptions of the nature of laboratory inquiry. Chemistry Education Research and Practice, 12(1), 47-56.
Viana, H. E. B., & Porto, P. A. (2012). O desenvolvimento de novas substâncias na primeira metade do século XX: o caso de Thomas Midgley, Jr. Circumscribere, 12, 16-30.
Viana, H. E. B., & Porto, P. A. (2013) Thomas Midgley, Jr., and the Development of New Substances: A Case Study for Chemical Educators. Journal of Chemical Education, 90(12), 1632-1638.
Publicado
Edição
Seção
Licença Creative Commons
Todas as publicações da Revista da Sociedade Brasileira de Ensino de Química estão licenciadas sob licença Creative Commons Attribution 4.0 International License. (CC BY 4.0).
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attributionque permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho on-line(ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).