A Química como parte da Cultura: uma reflexão filosófica acerca da imprevisibilidade, da temporalidade e da capilarização socioambiental das entidades químicas
DOI:
https://doi.org/10.56117/resbenq.2024.v5.e052423Palavras-chave:
Filosofia da química. Educação química. Biografia dos materiais.Resumo
Neste artigo, propomos uma breve biografia de algumas entidades químicas que causam grande impacto cultural, social e ambiental desde as primeiras décadas do século XX: os CFCs, os plásticos e as anfetaminas. Biografar um material significa fazer convergir elementos da filosofia e da história da química e de sua indústria, com aspectos sociais, históricos, geopolíticos e ambientais, o que permite localizá-lo no contexto cultural em que se apresenta. A partir desses estudos de caso, destacaremos os conceitos epistemológicos de imprevisibilidade, de temporalidade e de uma positividade afetiva demandada pelas sociedades contemporâneas e fornecida pela química de sínteses orgânicas. Apresentamos uma reflexão que se baseia em uma epistemologia não causal em que estão presentes novos elementos, tais como incerteza, contingência, imprevisibilidade, risco, desordem e destruição. Essa reflexão sugere que o ganho de conhecimento deve ser comparado com o aumento do desconhecimento ou com a falta de conhecimento. Tal análise é importante, pois pode auxiliar na ampliação de informações necessárias tanto para o ensino de química quanto para atingir as demandas de agências internacionais como, por exemplo, a ONU e a UNESCO, de tornar a química um dos eixos para um desenvolvimento social e econômico sustentáveis. Consideramos que além da filosofia da química contribuir para o ensino dessa ciência, ela também possibilita refletir acerca da presença de certas entidades químicas em diferentes contextos, envolvendo desde questões epistêmicas até questões éticas, sociais e ecológicas.
Referências
Andrady, A.L. & Neal, M.A. (2009). Applications and Societal Benefits of Plastics, Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, 364 (1526), 1977–84.
Baird, D.; Scerri, E. & McIntyre, L. (Ed.) (2006). Philosophy of Chemistry. Dordrecht: Springer.
Barry, A. (2001). Political Machines: Governing a Technological Society. London: Athlone Press.
Bensaude-Vincent, B. & Eastes, R-E. (Org.) (2020). Philosophie de la Chimie. Paris: De Boeck Supérieur.
Bensaude-Vincent, B. & Stengers, I. (1966). História da Química. Lisboa: Instituto Piaget.
Bensaude-Vincent, B. (2013). Plastics, materials and dreams of dematerialization. In: Gabrys, J; Hawkins, G.; Michael, M. (Eds), Accumulation: The material politics of plastic. London/New York: Routledge, p. 17-29.
Bensaude-Vincent, B. (Ed.) (2022). Between Nature and Society. Biographies of Materials. Singapore: World Scientific.
Bila, D.M., Dezotti, M.(2007): Desreguladores endócrinos no meio ambiente: efeitos consequências. Química Nova, 30(3), 651-666.
Bijker, W. (1995). Of Bibycles, Bakelites and Bulbs: Toward a Theory of Sociotechnical Change. Cambridge: The MIT Press.
BNCC (2018). Base Nacional Comum Curricular. A área de ciências da natureza e suas tecnológica. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/
BPR (2010). Guia de Remédios - edição 2010/2011.10. São Paulo: Editora Escala.
Centers for Disease Control and Prevention (CDCP) (2009). Fourth National Report on Human Exposure to Environmental Chemicals. Department of Health and Human Services. Washington, DC: CDCP.
Christie, M. (2003). The Ozone Layer: A Philosophy of Science Perspective. Cambridge: Cambridge University Press.
Delaire, E. & Teissier, P. (2020). Horizons, chaînes et rivages frigorifique en France, 1900 1930.Marché alimentaires, modernités techniques et pêches industrielles. Cahiers François Viète, III (8), 51-90.
EMCDDA (2015). European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction. Annual Report on the implementation of Council Decision 2005/387/JHA. https://www.emcdda.europa.eu/publications/implementation-reports/2015_en
Erduran, S. (2001). Philosophy of Chemistry: An Emerging Field with Implications for Chemistry Education. Science & Education, (10), 581-593.
Faraday, M. (1823). On the Condensation of Several Gases into Liquids. Philosophical Transactions of the Royal Society, 113, 189–198.
Gabrys, J; Hawkins, G.; Michael, M. (2013). Accumulation: The material politics of plastic. Londres/Nova York: Routledge.
Gois, J. & Ribeiro, M. A. P. (Org.). (2019). Filosofia da Química no Brasil. Porto Alegre: Editora Fi.
Gois, J. (2012). A significação de representações químicas e a filosofia de Wittgenstein. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo.
Guyton, L.B. (1799). Expériences sur les refroidissemens artificiels. Annales de Chimie, tome 29. Paris: Fuchs & Guillaume, 290-298.
Han, B-C. (2022). Sociedade do Cansaço. Rio de janeiro: Vozes.
Hyle (2001): International Journal for Philosophy of Chemistry. V. 7, n. 2. http://www.hyle.org/journal/issues/8-1/index.html
Hyle (2002): International Journal for Philosophy of Chemistry, v. 8, n. 1, http://www.hyle.org/journal/issues/7/hyle7_2.htm
IBAMA (2024). Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos. Protocolo de Montreal. https://www.gov.br/ibama/pt-br/assuntos/emissoes-eresiduos/emissoes/protocolo-de-montreal. Consultado em 01/06/2024.
IUPAC (2024). International Union of Pure and Applied Chemistry. Events. https://iupac.org/events/
Juaristi, E. & Stefani, H. (2012). Introdução à estereoquímica e a análise conformacional. Porto Alegre: Bookman. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo.
Labarca, M.; Bejarano, N. & Eichier, M. L. (2013). Química e Filosofia: Rumo a uma frutífera colaboração. Química Nova, 36 (8), 1256-1266. https://doi.org/10.1590/S010040422013000800027
Latour, B. (1999). Pandora’s Hope: Essays on the Reality of Science Studies. Cambridge, MA: Harvard University Press.
Lacey, H. & MARICONDA, P. R. (2014). O modelo das interações entre os valores e as atividades científicas. Scientiae studia 12 (4): 643-68.
Lewowicz, L. (2016). LEMCO: Un coloso de la industria cárnica em Fray Bentos, Uruguay. Montevideo: INAC.
Liboiron M. (2013). Plasticizers: A Twenty-first-century miasma. In: Accumulation: The material politics of plastic. Gabrys, G. Hawkins, M. Michael (Eds). London: Routledge.
McFarland, M. (1989) Chlorofluorcarbons and Ozone. Environ. Sci. Techn., 23, (10), 1203 1207. https://doi.org/10.1021/es00068a004
Molina, M., Rowland, F. (1974). Stratospheric sink for chlorofluoromethanes: chlorine atom-catalysed destruction of ozone. Nature 249, 810–81. https://doi.org/10.1038/249810a0
Muakad, I. B. (2013). Anfetaminas e seus derivados. Revista da Faculdade de Direito da USP, 108, p. 545-572.
Neto, W. N. A. (2009). Formas de uso da noção de representação estrutural no Ensino Superior de Química. Tese de dourado em Educação. Universidade de São Paulo.
Organização das Nações Unidas. (2019). Psychotropics Substances 2018: Statistics for 2017.https://www.incb.org/documents/Psychotropics/technicalpublications/2018/PSY_Technical_Publication_2018.pdf
Ress, J. (2013). Refrigeration Nation. A History of Ice, Appliances, and Enterprise in America. Baltimore: The Johns Hopkins University Press.
Ribeiro, M. A. P. (2014). Integração da filosofia da química no currículo de formação inicial de professores. Contributos para uma filosofia do ensino. Tese de doutorado. Universidade de Lisboa.
SBQ (2021). Sociedade Brasileira de Química. Manifestação Pública da SBQ em Relação à Reforma do Ensino Médio. https://boletim.sbq.org.br/anexos/manifestacaoSBQ-BNCC-EnsinoMedio.pdf
SBQ (2024). Sociedade Brasileira de Química. 47ª Reunião anual. A centralidade da química na educação do cidadão e na inovação científica e tecnológica. https://www.sbq.org.br/47ra/
Scerri, E. & Ficher, G. (Ed.) (2016). Essays in the Philosophy of Chemistry. Oxford: Oxford University Press.
Schummer, J. et al. (2007). The Public Image of Chemistry. New Jersey/London: WorldScientific.
Silva, I. et al. (2022). Movimento química pós 2022: construção de um plano de ação para que a química e seus atores impactem a sustentabilidade e soberania no Brasil. Química Nova, 45 (4), 497-505. http://dx.doi.org/10.21577/0100-4042.20170898
Silva, P. (2002). Farmacologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
UNESCO (2011). International Year of Chemistry. https://www.un.org/en/events/chemistry2011/
Velders, G et al. (2007). The importance of the Montreal Protocol in protecting climate. PNAS, 104 (12), 4814-4819. https://doi.org/10.1073/pnas.0610328104
Whitehead, A.N. (1978). Process and Reality. New York: Free Press.
Whitehead, A.N. (1985). Science and the Modern World. London: Free Association Books.
Yarsley, V.E. and Couzens, E.G. (1941). Plastics. Middlesex: Pelican.
Zaterka, L. (2023). Desafios e Dilemas da era dos plásticos. In: Por que confiar nas ciências? Epistemologias para o nosso tempo. Ivã Gurgel (Ed.) São Paulo: Editora Livraria da Física.
Zaterka, L. & Mocellin (2022). Ensaios de História e Filosofia da química. São Paulo: Ideias & Letras.
Publicado
Edição
Seção
Licença Creative Commons
Todas as publicações da Revista da Sociedade Brasileira de Ensino de Química estão licenciadas sob licença Creative Commons Attribution 4.0 International License. (CC BY 4.0).
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attributionque permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho on-line(ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).