Qual o lugar da Imaginação na Filosofia da Química? Implicações para o Ensino de Química
DOI:
https://doi.org/10.56117/resbenq.2024.v5.e052421Palavras-chave:
Filosofia da química. Imaginação. EpistemologiaResumo
Parte da atividade do químico é lidar com os modelos e representações tanto para explicar fenômenos físico-químicos quanto para guiar a prática experimental em laboratório, seja de pesquisa, ensino ou na indústria. O uso de modelos, como os modelos moleculares por exemplo, ajuda o químico a compreender a distribuição espacial dos átomos em uma molécula, sua geometria e as interações químicas que ela realiza, assim como, suas propriedades físico-químicos, sua acidez e basicidade e as transformações que pode sofrer. Os modelos podem ser classificados como materiais ou abstratos, tendo também propriedades icônicas, analógicas e simbólicas. Os modelos também são instrumentos fundamentais no ensino de química. A questão que este trabalho coloca é, qual é o lugar da imaginação na filosofia da química? E também buscamos refletir sobre suas implicações para a formação do químico. Para responde-la recorreremos a epistemologia do conhecimento pessoal de Michael Polanyi (1891-1976) e a concepção de imaginação como construção metafórica de C. S. Lewis (1898-1963). Concluímos que o espaço onde o químico habita (seja em sala de aula ou no laboratório, de ensino ou pesquisa) é um espaço de criação de modelo, onde ele os manipula, interpreta, avalia e os testa numa dinâmica de construção explicativa. Ou seja, o lócus da imaginação na filosofia da química é a representação imagética que a química faz do mundo, instituindo as bases da construção e articulação de um imaginário químico que orienta as relações simbólicas dentro da comunidade dos químicos, no processo de ensino e aprendizagem em sala de aula e na formação de novos químicos e pesquisadores laboratoriais.
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